Bom resultado do PIB não deve se repetir ao longo do ano
Desempenho se beneficiou do excelente resultado da agropecuária

O resultado do PIB no primeiro trimestre, dessazonalizado, exibiu a robusta expansão de 1,4%, o que se deveu em grande parte ao expressivo crescimento de 12,2% da agropecuária. Dado que esse favorável desempenho teve origem na maior safra de todos os tempos, cujos efeitos se dissiparão ao longo deste exercício, é pouco provável que ele se repita nos próximos três trimestres. Ao lado disso, os altos juros, decorrentes da política monetária restritiva, devem contribuir para a desaceleração da atividade econômica, particularmente no segundo semestre.
Outro destaque em termos de expansão foi o da indústria extrativa, que cresceu, na mesma métrica, 2,1% no primeiro trimestre. Em boa parte, a explicação é a base comparação mais baixa do quarto trimestre do ano ado, devida a paralisações determinadas por serviços de manutenção de plataformas de extração de petróleo. A indústria de transformação caiu 1%, em linha com a previsão do início do ano. A queda não foi mais acentuada devido a demanda de consumo das famílias, impulsionada pelo aquecimento do mercado.
Os serviços tiveram o segundo melhor desempenho entre os setores da economia: cresceram, em termos dessazonalizados, 0,3% no primeiro trimestre. Esse resultado foi basicamente influenciado pela expansão dos serviços de tecnologia de informação (TI). A continuidade de seu crescimento nos últimos trimestres parece decorrer de fatores estruturais, pois se esperava uma redução de ritmo após o fim da pandemia, quando o segmento havia se expandido fortemente, graças à maior utilização de reuniões por vídeoconferences. Se for assim, os serviços de TI devem continuar a experimentar boa expansão nos próximos trimestres. Do mesmo modo, o desempenho do comércio, especialmente o do varejo, foi relevante no período, estimulado por um mercado de trabalho aquecido e de seus correspondentes efeitos na renda das famílias
Do lado da demanda, o maior destaque coube às importações, que cresceram expressivos 5,9% no primeiro trimestre (as exportações se expandiram apenas 2%). Duas razões básicas explicam esse resultado: 1) uma expansão da atividade econômica acima do potencial de crescimento da economia, o que resultou em vazamento da demanda interna em favor de aquisições no exterior; 2) a importação de uma plataforma de exploração de petróleo de alto valor, de fabricação chinesa. O segundo destaque ocorreu na formação bruta de bruta de capital fixo, cuja expansão alcançou 3,1% no primeiro trimestre, igualmente influenciada pela maior utilização de TI em projetos de investimento.
O consumo das famílias também é destaque: expandiu-se 1,0% no primeiro trimestre, apesar do crédito mais caro, da queda no ritmo de novas concessões de empréstimos e de uma inflação mais pressionada, fatores que limitam essa atividade. Essa resiliência pode ser explicada pela forte expansão da massa de renda das famílias, derivada de medidas como, entre outras, o aquecimento da demanda da economia e o aumento do limite de financiamento do programa Minha Casa Minha Vida.