Trump quer mesmo um acordo com o Irã – e manda avisos para Israel 363l3e
Vazamentos de que os israelenses adiantaram os planos operacionais para atacar instalações iranianas são uma forma de alerta 3la8

As várias fontes anônimas que estão aparecendo nos últimos dias falando sobre preparativos de Israel para atacar o Irã têm por objetivo, obviamente, mandar recados. Primeiro, para Israel, a quem Donald Trump tem insinuado críticas, inclusive pela gravidade da situação humanitária em Gaza. Segundo, para o próprio Irã, como uma forma indireta de dizer: se vocês não fizerem um acordo, não vamos segurar Israel.
Os recados podem ser de mão dupla, e Israel também estaria em posição de avisar os americanos, através de movimentações de munições e outras iniciais operacionais captadas por satélites, que um eventual acordo com o Irã para o fim de seu programa nuclear armamentista tem que ser à prova de furos.
Em épocas normais, Israel jamais se arriscaria a contrariar os americanos e desfechar um ataque que prejudicasse as conversações com o Irã. Trump realmente quer mostrar resultados em várias frentes, principalmente se eles demoram a aparecer, desde a Ucrânia até Gaza. Também tem se mostrado “frustrado” com Benjamin Netanyahu e perturbado pelo sofrimento de crianças palestinas – entram aí, de novo, as fontes anônimas encarregadas de plantar recados.
Mas os tempos atuais são tudo, menos normais. O governo israelense está vendo a deterioração do apoio – de boa ou má vontade – que ainda tinha em países ocidentais e insiste em ocupar Gaza de novo, deslocando uma população de dois milhões de habitantes.
As alternativas são, obviamente, ruins: o sofrimento da população civil é exatamente o que o Hamas considera “sacrifícios necessários” e aumenta as críticas a Israel, sem que garanta a prometida destruição do movimento fundamentalista. No outro lado do espectro, aceitar sair de Gaza em troca da libertação dos reféns seria uma vitória para o Hamas, que desfilaria triunfalmente pelas ruas do território arrasado, mas de volta a seu pleno controle.
AMEAÇA EXISTENCIAL 6v93n
Um ataque às instalações nucleares do Irã seria uma forma de “equilibrar” esse quadro. Uma ampla maioria dos israelenses considera um Irã com armas nucleares a maior ameaça existencial ao país. Seria, também, uma operação de altíssima complexidade que daria ao Irã motivos para retaliar em massa – e, dessa vez, Israel não teria a ajuda de países como França e Grã-Bretanha que cooperaram com os Estados Unidos e impediram todos os danos dos mais de 300 mísseis e drones disparados contra o país em abril do ano ado.
Uma das grandes preocupações dos israelenses é que Trump, no impulso para conseguir um entendimento, aceite um “acordo ruim” que não retire do Irã a possibilidade de enriquecer urânio, o componente essencial das bombas nucleares. “É isso que torna um ataque israelense mais provável”, disse uma fonte do governo americano para a CNN.
Os recados estão voando de todos os lados. É melhor isso do que mísseis. Idealmente, Trump conseguiria dobrar o regime dos aiatolás com promessas do fim das sanções e de acordos comerciais. O estado de alta intoxicação criado pela ideologia fundamentalista, ancorada no princípio da destruição de Israel, talvez impeça que isso aconteça. É uma grande perda para o mundo todo.
Trump já declarou com todas as letras que o Irã não pode ter armas nucleares e, se não aceitar um acordo, a possibilidade de um ataque é a única que resta. Até agora, os representantes iranianos têm recusado a possibilidade de despachar para outro país seus estoques de urânio enriquecido e discutir a questão dos mísseis de longo alcance. Sem isso, qualquer acordo se torna inútil.