Por que você precisa saber quem é Marisa Maiô 2rj6e
Criada com a IA de vídeos do Google, apresentadora virtual simboliza a chegada de uma nova era da convergência entre humanidade e tecnologia 602618

De um adulto para outro, preciso dizer que me sinto ridículo ao falar que você precisa saber quem é uma figura chamada Marisa Maiô. Mas precisa. O nome é intencionalmente tosco, como quase tudo que envolve o mais novo fenômeno da internet, o que não quer dizer que deixe de ser brilhante e relevante.
Mas vamos por partes.
Marisa Maiô é uma personagem que existe apenas na internet, embora o realismo dos vídeos em que aparece seja perfeitamente capaz de enganar nossos sentidos. Quem assiste pelo celular pode facilmente acreditar que está diante de um programa real, tamanha a fidelidade visual e sonora. É uma paródia dos programas de auditório televisivos, em que o caráter “mundo cão” rende piadas tão insólitas quanto o fato de ser comandado por uma apresentadora trajando roupa de banho e salto alto.
Ela nasceu da mente inspirada de Raony Phillips, criador de conteúdo carioca responsável por outros hits das redes sociais. Foi feita com o Veo 3, nova versão da IA de geração de vídeos do Google, que acaba de ser lançada. A partir de comandos de texto, tem inovações como o uso de falas, dentre outras. A ferramenta permite criar vídeos de até 8 segundos, que depois são editados em sequência para formar um episódio completo.
Poderia ser apenas “coisa de gente jovem”, mas seu sucesso simboliza algo maior. Não é de hoje que figuras virtuais fazem sucesso na internet, tanto que a influenciadora Lu do Magalu arrebanhou mais de 30 milhões de seguidores, ganhando notoriedade mundial. Mas, aqui, a coisa avançou alguns degraus tanto no realismo quanto na popularidade.
Aliás, no último sábado o próprio Magalu tornou-se o primeiro anunciante a contratar Marisa Maiô para uma publi de Dia dos Namorados, o que joga luz sobre uma fronteira comercial muito comentada sobre as IAs: a de disputar recursos com influenciadores “de carne e osso”. Em última análise, foi um humano que embolsou o dinheiro, naturalmente. Porém, cada vez mais o cenário das celebridades tende a ser um campo de batalha entre gente de verdade e gente de IA.
Mais do que o aspecto financeiro, o sucesso de Marisa Maiô indica que a televisão pode se expandir para os domínios da IA com adesão entusiasmada do público. Os vídeos dela batem a casa do milhão, e a própria Globo abraçou a novidade ontem, com espaço para o assunto no Fantástico. O caso também levanta discussões importantes sobre o futuro do trabalho criativo e a circulação de renda na indústria cultural.
Não dá para ignorar, além de tudo isso, um componente filosófico. Acredito que vivemos um momento intenso da convergência entre humanidade e tecnologia, que é uma das coisas que mais me encantam no que diz respeito a inteligência artificial. O sucesso de uma apresentadora que nem sequer existe (no sentido tradicional, pelo menos) mostra que estamos cada vez mais prontos para assimilar outras modalidades de “vida”.
Marisa Maiô é um divisor de águas na cultura pop nacional e no debate sobre o futuro do entretenimento. Mostra como a criatividade humana, quando bem aplicada a ferramentas de IA, pode trazer para a sociedade produtos que a gente nem sabia que queria consumir. Não sei se ainda vamos ouvir falar muito dela, mas torço para que sim.