
O mercado financeiro torceu o nariz para a provável indicação do ex-ministro Guido Mantega para o Conselho de istração da Vale. É miopia. Mantega na Vale é uma notícia positiva para os acionistas.
Como conselheiro indicado pela Previ, Mantega terá um raio de ação limitado, mas ele tem o telefone do presidente Lula. Foi ministro da Fazenda, do Planejamento e presidente do BNDES nos primeiros mandatos lulistas. Hoje a relação da Vale com o governo é nula, um flanco para qualquer companhia, mas especialmente para uma mineradora.
Os contatos de Mantega no Planalto podem (frise-se o “podem”) ser fundamentais para o êxito da companhia em três frentes:
• Para os próximos meses, o Ministério dos Transportes pretende rever quatro concessões ferroviárias, incluindo a EFVM (Estrada de Ferro Vitória a Minas) e EFC (Estrada de Ferro de Carajás), ambas da Vale. Com base em dados do TCU, o governo estima que a Vale deveria ter pago R$ 20 bilhões a mais pelas renovações contratuais feitas no governo Bolsonaro.
• A Vale hoje é a empresa exemplo no Ministério da Fazenda de companhia que paga pouco imposto, tomando o lugar da Ambev, que no final do ano ado foi enquadrada nas novas regras de J pelo mesmo motivo.
Nos próximos meses haverá uma série de revisões de incentivos tributários na Sudam e Sudene. A Vale e sua subsidiária Salobo Metais receberam R$ 20 bilhões de créditos pelas leis de incentivo regional. Parte desses valores devem ser revistos ainda neste ano.
• Há ainda um estudo do Ministério de Minas e Energia comparando a tributação da Vale com suas rivais australianas BhP e Rio Tinto. A conclusão do estudo é que a mineradora brasileira paga pouco mais da metade de impostos que as australianas.
Estatal até 1997, a Vale hoje é uma companhia sem um único controlador. Os maiores acionistas são a Previ, fundo de previdência do Banco do Brasil, com 8,7% das ações, o grupo japonês Mitsui, com 6,3%, e o fundo americano Blackrock, com 5,83%.