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A responsável por levar mulheres ao Saara para discutirem rumos femininos 5a3o19

Janaina Araújo está à frente do Desert Women Summit, que ocorreu entre os dias 23 e 29, ao sul do Marrocos n681k

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 31 Maio 2025, 18h00

Janaina Araújo é a responsável por levar dezenas de mulheres a cada dois anos ao deserto do Saara, no sul do Marrocos, dispostas a meditar, trocar experiências profissionais de diferentes áreas e assistir a palestras sobre empreendedorismo e negócios. À frente do Desert Women Summit, que chegou na segunda edição, entre os dias 23 e 29, Jana, como é chamada pelas presentes, foge do título de “feminista”. Explica que não quer se associar a extremos. Nascida em Cajazeiras (PB), cresceu em Caicó (RN). Vem de uma região onde, sabidamente, concentra números históricos de feminicídio, atrelados, entre outras questões, à dependência financeira. Algo nada incomum também ao Marrocos, onde 57% das mulheres, cerca de 7,6 milhões da população, já sofreram algum tipo de violência, segundo pesquisa nacional de 2019. Entre os desafios que Jana acredita que possa contribuir para derrubar, as lições am pela sua vivência particular. “Não existe impacto social se não trabalharmos nossos traumas”, diz. A seguir, o bate-papo com a coluna GENTE.

Como explicar um evento de mulheres no deserto? O Desert Women Summit é um evento de bem-estar, que inclui caminhada no deserto, ioga, olhar o céu, apreciar as estrelas, vivenciar festas e tudo mais para as mulheres. É um movimento feminino. Os donos do Grupo Xaluca, rede de hotéis aqui no Marrocos, me propam: ‘Jana, não quer fazer o Desert Women Brasil aqui?’ Assim surgiu o encontro. Nosso próximo o é fomentar a economia local. Quando cheguei, vi que é uma região que precisa de muito apoio. Xaluca é o maior grupo que nessa região, quem dá emprego para todas essas pessoas. Mas a gente pode trazer uma visão de fora também.

Foi fácil convencer mulheres a virem ao Saara? Esse evento já estava formulado para acontecer em 2019, e aí veio a pandemia, entende? Na edição anterior, a primeira, tivemos a Luiza Helena Trajano, eu mesma peguei o telefone e liguei. Foi assim que começou, não era um evento com esse formato, a gente redesenhou. Tem uma fala da Luiza assim: ‘não sei por que estou aqui até agora, mas se estou aqui, é porque você merece’. E aquilo me tocou muito.É um evento 360, porque tem o turismo, introduzimos as pessoas nessa cultura para uma autopercepção, o olhar para dentro. A ideia é fazer uma edição a cada dois anos aqui.

Já há expectativa para o evento de 2027? Estou pensando em fazer algumas mudanças, gostaria de fazer cápsulas menores, edições menores, para a gente não perder esse contato com as mulheres, a motivação, estar realmente em um movimento de impacto social. E já tenho Portugal me pedindo para fazer uma edição lá. A gente precisa mudar essa questão do mindset das mulheres, sabe? A ideia é: vamos nos unir e impactar fora do nosso ecossistema. A gente pode se unir e impactar outras mulheres. Principalmente aqui na região.

Você já disse que se sente um pouco africana. Como é isso? Minha filosofia é iorubana, povos que vivem da natureza. E aqui, embora tenha influência muçulmana muito forte, eles e os berberes (povos nativos do norte da África) têm a mesma base cultural que os nigerianos, os iorubás. Ou seja, cultuam a força da natureza. Quando fui há oito anos à Nigéria, fiquei impactada com a sabedoria das pessoas. Como a sociedade é bem organizada. E falei: ‘a gente é muito surtado, de verdade’. Fiquei mexida. Tenho essa coisa de sempre me autoavaliar. Me senti pertencente e percebi o quanto precisava melhorar de sanidade mental, de inteligência emocional, de ter empatia.

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Sofreu machismo em algum momento? Aqui? Nunca. Pelo contrário. Já no Brasil, muitas vezes. Aqui nenhum homem te toca. Nenhum homem vai te desrespeitar. Aqui a mulher é bem tratada. E fiquei muito impactada com isso. A sociedade deles é para dentro. Clausurado, sabe? Você vê que as janelas das casas são pequenas, não vê para fora. É cultural. O ouro deles está dentro de casa: a família. E percebo que, finalmente, estão começando a se ocidentalizar um pouquinho na questão da mulher, nas questões culturais. Mas no geral aqui é um país extremamente pacífico, as pessoas são maravilhosas. A minha crença aqui é de amor.

Você se declara feminista? Não gosto desse termo. A gente tem que olhar com mais amor para a gente mesmo.  E você não vê isso da parte dos homens. Eles são mais unidos, as mulheres são mais rivais. Mas é um processo. Não tenho nada contra os homens. Inclusive, é perfeito o equilíbrio. Mas precisa equacionar essa conta, a balança está desigual. Só tem que se fazer isso com inteligência emocional, com empatia. Não concordo com radicalismo. Trabalhei dez anos na Camargo Correia. Fui líder lá. Entendo bem o que é trabalhar com homens. Respeito se conquista com postura. Tudo é uma questão de posicionamento e postura.

Não entendi a rejeição ao feminismo. Seria pela questão do radicalismo? Exato. Não me considero uma feminista ativa ou com falas agressivas. Eu prezo pelo equilíbrio.

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O que a mulher brasileira deveria aprender com a mulher marroquina? A mulher marroquina sabe o que ela quer. Ela é estrategista, gosta de ser bem tratada. E ela é bem tratada. Muito. Elas têm a arte da sedução, se cuidam, são lindas. E você vê… Depois que fiquei aqui, uns vinte e poucos dias, já queria botar o lenço. É uma coisa doida. A gente pode, sim, ser feminina. Não é que eu tenha que me descobrir ou que eu tenha que tirar a roupa. Não é isso. Mas também estar coberta é bonito.

E a pergunta oposta: o que a marroquina deveria aprender com a brasileira? Elas precisam saber a força que têm. Ao mesmo tempo que são estrategistas, elas sabem o que elas querem, mas ainda assim, a questão de entender que tem coisas que a gente não precisa ar. É uma questão mais de leis, de quebra de cultura. Eles tratam a mulher bem, mas a mulher não tem muitos direitos. A submissão… A gente também traz esse olhar diferente a elas.. De falar, de agir, de discutir mais. A gente está mais à frente, vamos colocar assim. Aqui ainda não.

Trata-se de uma sociedade com traços machistas bem aparentes. Qual é o desafio maior ao se trazer um movimento de discussão feminina para cá? E você vê que incrível? Quem trouxe esse pedido para gente? Um dos sócios da rede Xaluca. Já existe um movimento maravilhoso. É um homem, é um dos sócios dos maiores grupos do sul do Marrocos introduzindo isso. Então se percebe que dentro de uma sociedade tão fechada, já tem aberturas acontecendo.

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Pensa em trazer convidadas do meio político, por exemplo? A gente já trouxe. Política pública é fundamental. A gente trouxe uma deputada no ado. Queria trazer Maria da Penha e não deu, mas quero trazer para a próxima edição.

Das suas dores particulares, onde está sua força para derrubar o machismo? Na minha família, todos os meus tios, inclusive, meu pai, foram agressores. Venho de um ambiente que, para mim, era normal mulher apanhar. Não conhecia outra realidade. Apanhei do meu ex-marido uma vez e meu maior medo era seguir a mesma situação que a minha mãe. Foi muito difícil para mim. E isso acontece. Não denunciei. Mas me separei e hoje a gente até conversa. Hoje entendo que meus traumas têm muito a ver com a minha infância, é difícil confiar, para mim homem é violento. Na época não sabia o que aquela era uma relação tóxica. Nasci no berço tóxico, violento e perigoso. Fui dando conta quando fui crescendo, entrei em grandes empresas, tive educação. Muitas vezes seu emocional te barra que a informação chegue. Por isso é um evento que fala sobre empreendedorismo com impacto social. Não existe impacto social se não trabalharmos nossos traumas.

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Mulheres participantes do Desert Women Summit 2025 – (./Divulgação)
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Mulheres participantes do Desert Women Summit 2025 -
Mulheres participantes do Desert Women Summit 2025 – (./Divulgação)
Mulheres participantes do Desert Women Summit 2025 -
Mulheres participantes do Desert Women Summit 2025 – (./Divulgação)

 

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