Lauro César Muniz fala sobre ‘propaganda religiosa e marxista’ em novelas 6w3f4s
Aos 87 anos, novelista de clássicos da TV Globo é o convidado do programa semanal da coluna GENTE 5i5y2z
Ao lado de Janete Clair, Dias Gomes e Jorge Andrade, Lauro César Muniz formou o chamado “Quadrado Mágico” da teledramaturgia brasileira, firmando a excelência da TV Globo na área. Autor de novelas clássicas como Escalada (1975), O Casarão (1976), Espelho Mágico (1977), Roda de Fogo (1986) e O Salvador da Pátria (1989), além de minisséries como Chiquinha Gonzaga (1999) e Aquarela do Brasil (2000), o dramaturgo se destacou pela ousadia narrativa – algo cada vez mais escasso em tempos de crises de audiência no horário nobre. Em Os Gigantes (1979), por exemplo, discutiu a eutanásia. Aos 87 anos, Lauro se aposentou da escrita, mas suas novelas ainda seguem atuais.
Com agens por quase todos os canais, como as extintas Excelsior e Tupi, e ainda Globo, Band e SBT, o novelista é convidado do programa semanal da coluna GENTE (disponível no canal da VEJA no Youtube, no streaming VEJA+ e também na versão podcast no Spotify). Ele diz por que não assiste ao remake de Vale Tudo; recorda os bastidores conturbados de Aquarela do Brasil (2000), sua última novela na Globo; e a frustração com a agem pela TV Record. Sem meio-termo, cita o embate que teve com o diretor Jayme Monjardim e a briga com Dina Sfat (1938-1989), atriz de alto escalação que chegou a pisotear num capítulo de sua novela. Com participação do pesquisador Mauro Alencar, a entrevista também foi acompanhada pela mulher de Lauro, a atriz Mayara Magri, 63. Assista.
CRISE DAS NOVELAS ATUAIS. “A gente sente que houve um retrocesso lamentável na qualidade das telenovelas que estão no ar no horário principal das 20h30, 21h. Lamento isso. Acho que tem bons autores sim. Já vi alguns trabalhos anteriores, o mesmo autor fazendo trabalhos muito bons e hoje regredindo bastante. Nosso ado, modéstia à parte, foi excelente. Grandes autores, citaria Dias Gomes, Janete Clair e Jorge Andrade. Colegas fantásticos que faziam alguma coisa nova, buscavam um caminho novo”.
PROBLEMA DOS AUTORES. “O que tenho visto é que os capítulos hoje se repetem muito e ao chegar no meio já estão marcando pontos como eram no início… Tem ponto certo para mudar. Tem uma estrutura que se modifica com o decorrer dos capítulos. É muito importante mudar as novelas em relação ao tempo. O espectador quer rever coisas, sim, mas quer que a coisa continue mudando, dando aos personagens caminhos diferentes”.
NOVELAS RELIGIOSAS OU MARXISTAS. “Hoje na Record estão muito mais preocupados em fazer propaganda religiosa, o que é lamentável. Uma propaganda que não corresponde ao momento geral do país. Eles estão preocupados mais em implantar uma realidade religiosa. Não é bom. Como não é bom também implantar uma realidade marxista. A telenovela tem o seu caminho. Ela tem que ser criada com consciência”.
CRÍTICAS A JAYME MONJARDIM. “Aquarela do Brasil (2000) criou uma situação difícil por questão de direção. O diretor (Jayme Monjardim) preferiu ficar estudando tecnicamente o assunto ao invés de ir para o estúdio dirigir. Ele colocou companheiros dele para dirigirem, enquanto ele ficava em casa estudando as cenas. Ele cortava o que não achava válido. E eu sofria demais com os cortes. Hoje, vendo à distância, ainda assim, sinto que essa novela seja o trabalho mais bem acabado que fiz, apesar de ter sido mal dirigida”.
Sobre o programa semanal da coluna GENTE. Quando: vai ao ar toda segunda-feira. Onde assistir: No canal da VEJA no Youtube, no streaming VEJA+ ou no canal VEJA GENTE no Spotify, na versão podcast.