‘A solidão é inevitável’, diz Ana Suy, a psicanalista mais pop das redes 2bz2c
Autora de best-seller diz que as pessoas ainda sofrem por cultivar o mito da 'cara-metade' e que há riqueza na sensação de vazio g6o6y

O que acha que Freud diria ao esbarrar com a psicanálise nas redes? Elas fazem muito bem à psicanálise, por democratizar o o a ideias antes restritas ao mundo acadêmico e aos consultórios. A psicanálise sempre foi poderosa para entender as dores humanas, mas ainda havia aquela imagem do analista sério, frio e silencioso. Hoje, a internet permite mostrar como conceitos complexos ajudam a explicar a vida real. As pessoas se identificam na hora.
Seu best-seller A Gente Mira no Amor e Acerta na Solidão trata do vazio que muita gente sente mesmo acompanhada. É um mal dos tempos modernos? Vivemos uma crise amorosa na civilização. Deixamos de acreditar no amor romântico e ingênuo, mas não abandonamos completamente a ideia desse modelo. E as pessoas seguem perseguindo isso. Naturalmente, se frustram, já que não existe ninguém que preencha 100% o outro. A solidão sempre estará lá, ela é inerente à condição humana.
Está dizendo que o que se convencionou chamar de “a cara-metade” é um mito? A gente fantasia que vai se encontrar no outro, mas, mesmo quando achamos nossa “metade”, sempre vai haver um desencaixe. É uma ilusão que carregamos desde sempre, principalmente nós, mulheres, criadas para acreditar que só estamos completas quando encontramos um parceiro ou temos filhos.
É comum haver solidão no amor? Não é só comum, como é preciso deixá-la existir no amor. Justamente nela está o espaço que permite que a relação respire.
A hiperconectividade das redes intensifica a sensação de estarmos sós? A gente se ilude demais com todas essas conexões. Seguimos tantos perfis, temos tantos contatos, só que muito mais do que conseguimos cultivar. O tempo e a energia de cada um são limitados. E, sem investimento de verdade nas amizades, elas não se sustentam. É aí que vem aquela sensação de estar sempre cercado, mas sozinho.
E como lidar com a solidão de forma saudável? O discurso de que a pessoa se basta, como se isso fosse um sinônimo de autoamor, pode trazer mais isolamento. Saudável mesmo é entender a solidão como algo inerente à existência. Os laços que firmamos ao longo da vida nos deixam menos desamparados, sim, e devemos alimentá-los. A solidão não precisa ser um lamento, porque nela pode haver riqueza.
Fala-se muito hoje que as teorias freudianas são machistas e perpetuam uma visão binária de gênero. Concorda? Freud era um gênio de seu tempo, mas um produto do século XIX. Obviamente, havia limitações em seu olhar, como qualquer um naquela sociedade. Por mais que fosse ousado, era um homem em uma circunstância machista. Cabe a nós fazer uma leitura do que serve e atualizar o que ficou antiquado. Se estivesse vivo, ele provavelmente estaria fascinado pelas identidades de gênero e criando novas teorias revolucionárias.
Publicado em VEJA de 23 de maio de 2025, edição nº 2945