A descoberta de um segredo escondido em quadro de Anita Malfatti 2j616c
Pesquisadores se debruçaram sobre obra da artista modernista e utilizaram tecnologia de ponta para revelar imagem 2o4m3l

Uma equipe de professores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) descobriu recentemente uma imagem escondida sob a tela Dora, da pintora brasileira Anita Malfatti (1889-1964). “Identificamos que tem uma moça deitada aqui, nua, por trás dessa pintura. Conseguimos reparar a cabeça dela, o braço, o corpo, outro braço e a perna. Até os pés a gente consegue ter uma vaga noção de como foi feito, como foi desenhado o esboço dela”, explicou o pesquisador Lucas Cotta ao telejornal MG TV, da Globo.
A análise foi feita em parceria com a UFRJ, que forneceu um aparelho chamado de IRR, que usa a radiação infravermelha refletida da imagem, para que os pesquisadores conseguissem ter uma imagem melhor da pintura oculta no quadro de Malfatti. Além disso, a obra de arte também ou por exames analisam os elementos químicos presentes na pintura. “É visível que você tem uma pintura por trás. O interessante é que não foi só um rascunho, a gente sabe que esse rascunho teve uma camada pictórica, que ele foi realmente pintado. Tem pigmento a base de estrôncio que foi usado para fazer essa coloração”, explicou o professor André Pimenta, da UFRJ.


Nascida em São Paulo, em 1889, Anita Malfatti é a grande pioneira do modernismo brasileiro, despontando no movimento com a exibição da obra O Homem Amarelo durante a Semana de Arte Moderna de 1922. Pintado em 1934, Dora retrata uma parente de Malfatti, uma mulher com cabelos curtos e trajada com um vestido claro de mangas bufantes. Sob a pintura, o retrato de uma mulher nua mostra que a tela foi reutilizada pela artista. Agora, os pesquisadores querem definir se a moça nua é a mesma Dora retratada de forma recatada na tela de Malfatti.
Descobertas como essa tem acontecido com mais frequência nos últimos anos, com o uso de tecnologias como raio-x e infravermelho para estudar a arte. Em 2021, por exemplo, um cupido escondido no quadro Moça Lendo uma Carta à Janela (1657-59), do holandês Vermeer (1632-1675), deu as caras depois de uma restauração atenta da pintura — ele já havia sido identificado décadas atrás, mas só se tornou visível de fato recentemente, com auxílio da ciência e da tecnologia.
A parceria entre arte e ciência, inclusive, remonta a vários séculos, quando artistas como Leonardo da Vinci (1452-1519) e Michelangelo (1475-1564) se dedicavam à dissecação de cadáveres e ao estudo de cores e tintas. Nos últimos anos, curiosamente, a situação se inverteu: agora, é a ciência que se debruça sobre a arte, com o objetivo nobre de entender o trabalho dos mestres do ado, ajudar na conservação de suas obras e decifrar alguns de seus mistérios.