Qual o impacto do avanço do PIB na próxima decisão sobre juros?
Leitura é de que o Banco Central deve manter a taxa nos atuais 14,75 %

A leitura de analistas do mercado é o avanço do PIB deve levar o Banco Central a manter a taxa nos atuais 14,75 % até ter sinais mais claros de perda de fôlego da demanda e de melhor ancoragem das expectativas de inflação.
Para José Alfaix, economista da Rio Bravo, o resultado do PIB confirma que a economia “ainda resiliente no 1° Tri” recebeu impulso de uma “forte retomada do agro”, de um mercado de trabalho aquecido e, sobretudo, de medidas de estímulo ao crédito fora do Orçamento. Ele enumera “o novo consignado CLT, o anúncio do Faixa 4 do MCMV, a liberação do saque-aniversário do FGTS, novas linhas de crédito para a troca de motocicletas e reformas de residências, o novo desenho do Auxílio-gás e o programa Pé-de-meia”. “O forte estímulo à demanda e ao consumo fazem com que esses componentes alimentem um mercado de trabalho operando acima do seu limite não inflacionário, e, a despeito das consequências, faça a economia crescer mesmo com juros reais de 9 %”.
Nesse ambiente, cortar a Selic cedo demais seria arriscado. O diagnóstico de Pedro Ros, CEO da Referência Capital e de o avanço do PIB “surpreende positivamente, mas exige leitura cautelosa”. O fato de o crescimento vir “puxado pelo setor de serviços e pelo agronegócio, enquanto a indústria segue estagnada” indica, segundo Ros, que “a taxa de juros elevada continua freando o investimento produtivo e o consumo das famílias”. Embora o dado seja “positivo”, não altera “o cenário de cautela”: sem equilíbrio fiscal e ambiente de confiança, diz ele, “o Brasil seguirá crescendo abaixo do seu potencial”.
Ao analisar o quadro, Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos adverte: “a manutenção de juros elevados pode limitar o crescimento nos próximos trimestres, especialmente se não houver avanços significativos na confiança dos investidores e na redução das incertezas fiscais”.
Enquanto o impulso ao consumo mantiver o mercado de trabalho apertado e faltar clareza sobre o ajuste fiscal, a Selic deve continuar alta. Segundo as projeções do mais recente Boletim Focus apontam que os juros devem continuar no patamar de 14,75% até o fim do ano.