TCU aprova contas de Lula em 2024, mas alerta para emendas, BPC e desonerações
Relatório anual do tribunal avalia se execução orçamentária do governo cumpriu as principais leis fiscais do país

O Tribunal de Contas da União (TCU) aprovou com ressalvas as contas do governo de Luiz Inácio Lula da Silva em 2024, fazendo recomendações ao governo para aprimorar a gestão ou a transparência em pontos como as renúncias tributárias, os gastos previdenciários e as emendas parlamentares. O documento que avalia se a execução orçamentária do Executivo cumpriu as principais leis fiscais do país foi divulgado nesta quarta-feira, 11, pelo TCU. O relatório foi elabora pelo ministro Jhonatan de Jesus e aprovado por unanimidade pelos demais ministros.
É comum que as contas anuais dos presidentes sejam aprovadas com ressalvas pelo TCU, que indica em seu balanço em quais pontos é necessário haver alguma atenção ou aprimoramento adicional. As únicas vezes em que um presidente teve a execução fiscal rejeitadas pelo tribunal foram em 2014 e 2015, no governo de Dilma Rousseff.
Renúncias tributárias
O parecer referente a 2024 apontou falhas nas políticas de desonerações e subsídios tributário. A “concessão ou ampliação de benefícios tributários que decorram renúncias de receitas sem atendimento às prescrições legais” foi identificada como a única irregularidade de fato nas contas, já que estaria descumprindo alguns dispositivos da lguns dispositivos da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)
De acordo com o TCU, algumas das renúncias concedidas em 2024 não possuíam demonstração detalhada de seus cálculos e não tinham informações claras sobre seu impacto financeiro. Em 2024, os benefícios tributários, que são descontos ou isenções em impostos, alcançaram R$ 563,5 bilhões. Somados aos benefícios financeiros e creditícios, que dão subsídios nas operações de crédito e foram de R$ 114,9 bilhões, eles chegam a 5,8% do PIB e 31% da receita primária líquida. “Isso significa que a arrecadação poderia ser bem maior sem essas renúncias”, diz o TCU em nota.
Apesar da irregularidade, o relatório destaca que, diferentemente de anos anteriores, todas as renúncias de receitas que entraram em vigor em 2024 foram acompanhadas de medidas compensatórias.
Emendas parlamentares
Entre as recomendações do relatório, está o pedido para que sejam prestadas informações mais detalhadas sobre as emendas parlamentares, que encerram o ano com um gasto efetivo abaixo do que foi reservado para elas. De acordo com o TCU, as emendas individuais executaram 90,8% das verbas que receberam, enquanto, entre as emendas de bancada estadual, esse percentual foi de 84%.
“Cabe aos órgãos gestores apresentar justificativas organizadas, detalhando os principais entraves enfrentados e os desafios remanescentes à plena execução das emendas”, diz o relatório. “É fundamental que se identifiquem, classifiquem e divulguem publicamente os motivos da não execução financeira, promovendo transparência e aperfeiçoamento do controle social sobre o cumprimento das emendas parlamentares impositivas.”
BPC mal projetado e rombo da Previdência
O relator também recomendou que as projeções para futuros gastos com o Benefício de Prestação Continuada (BPC) sejam aprimoradas, dado que é dele que tem vindo algumas das principais necessidades de revisão de despesas ano a ano, conforme a concessão e valores pagos com o benefício acabam maiores do que as projeções feitas.
Em 2024, as despesas totais da União acabaram o ano 16,2 bilhões de reais mais altas do que o valor inicialmente previstos para elas na Lei Orçamentária Anual, sendo que, no caso dos benefícios previdenciários, que incluem as aposentadorias e o BPC, a despesa foi 29,9 bilhões de reais superior ao previsto, apontou o TCU. A diferença entre os números foi compensada ao longo do ano por meio de bloqueios e remanejamento de verbas.
O tamanho dos gastos previdenciários em si foram outra preocupação manifestada pelo relator. “Em 2024, a despesa primária com benefícios previdenciários totalizou R$ 938 bilhões, o que representa 42,6% do total da despesa primária da União”, disse. O déficit do regime totalizou R$ 419 bilhões no ano ado. “A sustentabilidade da previdência é um desafio coletivo, que exige novas fontes de custeio além da folha de salários e políticas que ampliem a cobertura contributiva”, avaliou.
Restos a pagar
O ministro-relator afirmou ainda em sua avaliação ter “grande preocupação” com o estoque de restos a pagar, que são a parte das verbas recebidas que os ministérios e outros órgão terminam o ano sem usar. “O total de restos a pagar para 2025 (que sobrou de 2024) é de R$ 311 bilhões, o maior registrado nos últimos dez anos”, diz o texto. “O volume merece atenção. A predominância de restos a pagar não processados aumenta o risco de que algumas despesas não sejam efetivamente realizadas.
Avaliação fiscal anual
O TCU faz anualmente análise técnico-jurídica das contas do presidente da República e verifica se foram respeitadas, nos gastos públicos, as principais regras fiscais e orçamentárias, como, por exemplo, o alcance das metas fiscais, os níveis de endividamento, a aplicação mínima de recursos na saúde e na educação, as renúncias de receitas, entre outros.
Essa análise resulta na emissão de dois documentos: o relatório e o parecer prévio. No parecer prévio, o TCU emite opinião sobre os Balanços Gerais da União (BGU) e sobre a execução orçamentária, indicando a aprovação, aprovação com ressalvas ou rejeição das contas.
Com Agência Brasil