Ex-chefe da FAB é contestado sobre trama golpista e recebe até proposta de acareação 3her
Baptista Júnior prestou um dos mais contundentes depoimentos ao STF, mas teve declarações contrariadas tanto por réus quanto por testemunhas 622n1o

O ex-comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, prestou um dos mais contundentes depoimentos ao Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito que apura uma suposta tentativa de golpe depois das eleições de 2022.
O militar relatou, entre outras coisas, que diante da insistência de Jair Bolsonaro em reverter o resultado das eleições, o então comandante do Exército teria ameaçado prendê-lo. Detalhou ainda como o então comandante da Marinha tinha colocado as tropas à disposição de Bolsonaro. E narrou, de maneira minuciosa, uma reunião com o ministro da Defesa em que seria apresentada uma nova versão de um documento que permitisse uma virada de mesa.
As declarações haviam sido feitas à Polícia Federal no ano ado e foram reiteradas em depoimento no Supremo. Baptista Júnior não é investigado e falou na condição de testemunha. Alguns trechos dos relatos do militar acabaram contestados por ao menos quatro depoentes – inclusive o ex-chefe do Exército, Marco Antônio Freire Gomes – e uma acareação chegou a ser proposta.
Ameaça de prisão 245v6
Em depoimento, o ex-comandante do Exército Marco Antônio Freire Gomes, também testemunha no processo, negou ter ameaçado prender o então presidente Jair Bolsonaro, conforme tinha sido narrado por Baptista Júnior.
“A mídia até reportou que eu teria dado voz de prisão ao presidente. Não aconteceu isso de forma alguma. Acho que houve uma má interpretação. O que eu alertei ao presidente foi que se ele saísse dos aspectos jurídicos, além dele não poder contar com o nosso apoio, poderia ser enquadrado juridicamente”, disse Freire Gomes.
Também participante dos encontros com Bolsonaro, o ex-chefe da Marinha Almir Garnier foi outro que refutou a versão. “Até achei, se o senhor me permite, surreal. Não faz parte das normas das Forças Armadas, da hierarquia e disciplina, atitudes dessa natureza com esse contexto”, disse.
Minuta do golpe no Ministério da Defesa 2d5n25
Baptista Júnior narrou momentos de tensão durante uma reunião entre o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, e os três comandantes das Forças Armadas em 14 de dezembro de 2022.
Segundo o ex-chefe da Aeronáutica, Paulo Sérgio disse que ia apresentar um documento aos militares e, ao ser questionado se o material previa a “não assunção no dia 1º de janeiro do presidente eleito”, respondeu que “sim”. “E aí eu falei: ‘Não ito sequer receber este documento, não ficarei aqui’. Levantei, saí da sala e fui embora”, contou.
O ex-ministro é réu na trama golpista, e o encontro na Defesa no qual teria tentado pressionar os comandantes é um dos pontos relevantes da investigação. Em depoimento, o general Paulo Sérgio afirmou que “nunca pegou minuta para tratar com comandante de Força” e disse que, durante a reunião, foi interrompido por Baptista Júnior antes mesmo de “começar o assunto”.
“Ainda mais um diálogo longo desse, eu tinha que me lembrar. Podemos, oportunamente, se assim for, fazer uma acareação para a gente ver o que aconteceu ali”, sugeriu Paulo Sérgio Nogueira – a proposta foi de pronto refutada pelo ministro Alexandre de Moraes.
Apesar da divergência, o ex-chefe do Exército endossou a versão de Baptista Júnior e disse que, apesar de não saber o teor do documento que seria apresentado pelo então ministro da Defesa, o assunto era “basicamente em cima do mesmo conteúdo” que eles discutiam anteriormente – ou seja, uma proposta de reverter o resultado eleitoral.
Tropas da Marinha à disposição de Bolsonaro 312x5v
Baptista Júnior também contou que, em uma das reuniões com Bolsonaro, o almirante Almir Garnier afirmou que “as tropas da Marinha estariam à disposição do presidente”. E complementou: “Eu não fiquei sabendo à toa que a Marinha tem 14 mil fuzileiros”.
Garnier é réu justamente em decorrência dessa suposta prontidão de suas tropas a uma ruptura institucional. No Supremo, ele negou a acusação: “Eu nunca disponibilizei tropas para ações dessa natureza”.
Apesar disso, a concordância de Garnier também foi endossada pelo tenente-coronel Mauro Cid, que, em acordo de delação, afirmou que ouviu do general Freire Gomes que Garnier teria colocado as tropas à disposição do presidente.
No entanto, em depoimento ao Supremo, o ex-chefe do Exército negou a prontidão de Garnier. “Ele apenas demonstrou, vamos dizer assim, o respeito ao Comandante em Chefe das Forças Armadas e que não tinha opinião efetiva naquele momento. Não interpretei como qualquer tipo de conluio, o Senhor me desculpe”, disse Freire Gomes.