‘Revisor informal’, Fux vira contraponto a Moraes e entusiasma réus 3k6o2w
Nesta terça magistrado questionou se gravação de prova tida crucial pode ter sido "grampeada" 634s3a

Único ministro da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) a acompanhar, ao lado de Alexandre de Moraes, o interrogatório dos oito réus apontados como integrantes do “núcleo crucial” da trama golpista, Luiz Fux tem provocado comemorações – nem sempre contidas – de diferentes advogados de defesa dos investigados ao apresentar perguntas tidas como favoráveis a teses que desqualificam documentos pró-golpe, minimizam revelações do delator premiado Mauro Cid e até mesmo pavimentam o terreno para que advogados questionem a legalidade de parte das provas colhidas ao longo da investigação.
Nesta segunda-feira, por exemplo, Fux questionou o antigo ajudante de ordens de Jair Bolsonaro sobre o que dizia quando qualificava certos diálogos de teor antidemocrático como “bravatas”. Para as defesas dos réus, o questionamento tornou-se uma oportunidade de o próprio delator tirar o peso de articulações consideradas pelo Ministério Público como evidências de que um golpe estava em curso. “Em várias partes do seu depoimento o senhor fala em bravatas. O que o senhor quer dizer com bravatas?”, questionou a Mauro Cid.
O delator respondeu na sequência: “Conhecendo o histórico militar dele [de alguns interlocutores que mandavam mensagem a Cid], sabendo até onde ele serve, a gente sabia que era alguém que ficava reclamando no Whatsapp. Era alguém que falava que fazia tudo mas não fazia nada”, explicou. Cid deu a entender que alguns de seus interlocutores não tinham capacidade nem intenção de consolidar nenhum tipo de atividade golpista. A resposta foi comemorada por Bolsonaro: “O que é bravata? Cascata. (…) Cada um fala uma coisa e resolve o problema do mundo”.
Em outro momento, também partiu de Fux perguntas sobre o vaivém de versões de Mauro Cid, pilar usado pelas defesas para tentar demolir as revelações do antigo braço direito do ex-presidente. “Foram várias colaborações. Algumas sobre um fato, outras sobre outro. Mas no conjunto, o mesmo assunto foi tratado mais de uma vez?”, perguntou Fux. Por lei, omissões ou mentiras em um acordo de colaboração com a Justiça, se confirmadas, levam ao cancelamento da delação.
Nesta terça, ao questionar Bolsonaro sobre a célebre reunião ministerial em que o ex-presidente insinua que ministros do STF receberam dinheiro, descredibiliza as urnas eletrônicas e ouve apelos para uma eventual intervenção militar, Luiz Fux começou seu questionamento classificando a verborragia do capitão como um episódio em que ele havia “escorregado no vocabulário”. Também na sessão desta tarde, na avaliação dos principais advogados dos réus interrogados, Fux “levantou a bola” quando questionou o ex-presidente se a reunião ministerial de julho de 2022 foi “gravada” ou “grampeada”.
O vídeo do encontro da cúpula do governo foi apreendido entre o material do tenente-coronel Mauro Cid e, na avaliação da Polícia Federal, descortinou o papel de grande parte dos integrantes do antigo governo que hoje estão no banco dos réus. Foi nesta reunião ministerial que, entre outras coisas, o general Augusto Heleno mencionou uma virada de mesa nas eleições e diferentes discursos contra as urnas eletrônicas foram feitos.
Ao responder que havia sido “grampeada”, Bolsonaro semeia a tese – não necessariamente bem-sucedida – de que a prova poderá ser contestada no futuro. Provas ilícitas, diz a Constituição, são inissíveis e, portanto, não podem ser utilizadas para condenar ninguém.