Senadores aproveitam a fragilidade de Lula e ampliam o cerco a ministérios 2h493z
Caciques do Senado agem para substituir os ministros de Minas e Energia e do Meio Ambiente e aumentar a sua influência nas agências reguladoras 3t6m3n

Na formação do governo, o presidente Lula privilegiou os senadores ao escalar o ministério. Camilo Santana (PT), eleito pelo Ceará, assumiu a Educação. Carlos Fávaro (PSD), representante de Mato Grosso, ficou com a Agricultura. Já Renan Filho (MDB), de Alagoas, ou a comandar a pasta dos Transportes. Caciques do Senado também indicaram afilhados para outros postos de destaque, como o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional.
No rateio da Esplanada, deputados também foram contemplados, mas com espaços menores. Por isso, eles sempre reclamaram de uma suposta sub-representação na máquina federal. Essa queixa até fez Lula ceder um pouco mais de cargos para expoentes da Câmara, sem, no entanto, reduzir a primazia da chamada Casa Alta do Congresso. Desde o início do mandato, o presidente tem uma estratégia clara: estreitar laços com os senadores a fim de contornar as muitas dificuldades com os deputados.
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A estratégia de Lula tem funcionado. O novo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), por exemplo, declarou que um projeto de anistia capaz de beneficiar Jair Bolsonaro não será levada adiante. O PT, obviamente, aplaudiu, mas logo foi apresentado a uma proposta de renegociação dos termos da aliança entre as partes.
Nos bastidores, Alcolumbre trabalha para demitir o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que chegou ao cargo com a bênção de senadores, desentendeu-se com boa parte deles e agora é persona non grata na Casa. Os senadores também trabalham para minar indicações de Silveira para as agências reguladoras do petróleo (ANP) e de energia elétrica (Aneel), substituindo-os por nomes escolhidos por eles.
Na semana ada, houve uma ampliação do cerco ao ministério de Lula. Sob o silêncio cúmplice de Alcolumbre, senadores atacaram a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, numa tentativa de forçar a sua demissão. A ofensiva uniu parlamentares da base governista e da oposição, mas, em vez de enfraquecer a ministra, ajudou a fomentar uma rede de solidariedade a ela na opinião pública.
Na prática, Marina venceu o round, mas não a batalha. Em discursos no plenário, diversos senadores conclamaram Lula a trocá-la por um quadro mais preocupado com o desenvolvimento econômico. A pressão continuará. Um mandatário fragilizado não intimida ninguém.