Abril Day: Assine Digital Completo por 1,99

O que os lançamentos da Apple e da Amazon revelam sobre o consumidor 1l4u4d

Assim como no mundo real, clientes do mundo digital aceitam pagar mais para obter vantagens 44t46

Por André Lopes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Filipe Vilicic Atualizado em 4 jun 2024, 15h48 - Publicado em 13 set 2019, 06h30

A ideia da internet como uma ágora democrática, terreno de oportunidades equivalentes para todo mundo, foi sempre um dos pilares da magistral invenção de nosso tempo. Ela seria, enfim, o remédio para a aproximação entre alguns poucos privilegiados e o comum dos mortais, uma ponte de ligação afeita a atenuar diferenças econômicas, fossos de poder aquisitivo. Em 1989, há exatos trinta anos, o físico inglês Tim Berners-Lee, a serviço da Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear, desenvolveu a world wide web (www, na sigla em inglês) para facilitar o o, livre e igualitário, à rede que interliga computadores. “Incluí a palavra world (mundo) em ‘www’ justamente pela ambição de que um dia ela abraçasse toda a Terra”, disse ele, em entrevista recente a VEJA.

De modo a promover a igualdade entre os indivíduos que navegassem pela web, Berners-Lee decidiu não patentear a criação. O tempo, sempre cruel, tornou aquele sonho original uma quimera inalcançável. A internet deu tão certo, cresceu tanto e fez tanto dinheiro em três décadas de vida que, na disputa por nacos de mercado, naturalmente se impôs uma nova regra, mais pragmática e natural ao capitalismo: quem paga mais ganha benefícios. É uma dinâmica na qual os dois gigantes do setor entraram ainda mais firme, como revelam dois lançamentos anunciados na semana ada, na terça-feira 10. À meia-noite daquele dia, a Amazon começou a oferecer no Brasil uma versão “vip” do site de comércio eletrônico. Depois, ao longo da tarde, a Apple realizou seu tradicional evento de novos lançamentos em Cupertino, na Califórnia (EUA), com o anúncio de uma coleção de produtos e serviços destinados a quem pode desembolsar alguns dólares suplementares para ter vantagens sobre outros clientes, digamos assim, mais “básicos”. As duas empresas apostam na mesma ideia: oferecer exclusividade para atrair e manter fiéis consumidores.

Na Amazon brasileira, aqueles que pagarem 9,90 reais de mensalidade (é pouco, convenhamos) pelo serviço Prime terão facilidades como entregas rápidas e gratuitas, descontos em itens específicos e uma gama gratuita de livros, filmes, séries e revistas — como títulos da Editora Abril, entre eles VEJA. Nos Estados Unidos, o modelo é um sucesso. Mais de 101 milhões de americanos assinam a versão Prime, e o faturamento com essa parcela dos consumidores representa 60% da receita de quase 142 bilhões de dólares anuais do site de comércio eletrônico. Explica-se, portanto, o alvoroço provocado pelo desembarque do modelo no Brasil. Os rivais diretos da Amazon em território nacional viram o preço de suas ações despencar na bolsa de valores. Em conjunto, Magazine Luiza, B2W, Lojas Americanas e Via Varejo perderam 4,75 bilhões de reais em um único dia — no dia seguinte, essas empresas recuperaram 5,38 bilhões de reais.

Amazon-music
BENEFÍCIOS – Músicas grátis: para quem arcar com a versão da Amazon (./.)

No caso da Apple, a mudança de postura, do tiro de canhão para alcançar todo mundo para disparos individualizados, é ainda mais evidente. Quando foi lançado o primeiro iPhone, em 2007, uma das obsessões do fundador da Apple, Steve Jobs (1955-2011), era que todos aqueles que comprassem o smartphone tivessem a mesmíssima experiência. Ele queria criar um produto popular. ados doze anos — oito da morte de Jobs —, a companhia caminha para outra direção. “São os iPhones mais poderosos que já construímos”, disse o CEO, Tim Cook, ao revelar a nova linha, a de número 11. Ela inclui uma versão Pro, que custa quase o dobro do preço do modelo básico. A experiência de quem comprar o Pro será bem distinta da que terão aqueles que adquirirem um iPhone-padrão: o aparelho requintado possui câmera fotográfica de melhor qualidade e bateria de duração maior, entre os recursos destinados aos mais iguais que os outros, para usar uma expressão de George Orwell em A Revolução dos Bichos. Cook alardeou também um novo serviço de de games, e o de séries e filmes. Em ambos, só terá o ao catálogo extra — além do que há disponível a todos por meio da loja de aplicativo da Apple — quem topar pôr a mão no bolso.

Continua após a publicidade
dibravel
EXAGERO? – O smartphone “para poucos” da Samsung: conta até com tela dobrável, mas custa 8 000 reais (Simon Nagel/Getty Images)

Amazon e Apple, assim como outros gigantes da tecnologia, entre eles a Samsung, surfam numa tendência: clientes abonados têm demonstrado crescente interesse em pagar um pouco mais para contar com produtos e serviços melhores. É o que apontou um estudo da reputada consultoria sa Capgemini realizado no ano ado com 3 300 consumidores e 450 executivos de multinacionais. Entre os resultados, revelou-se que 81% da clientela aceita arcar com valores salgados em troca de experiências especiais. Os exemplos pululam. Na Netflix, o programa de streaming de séries e vídeos dispõe de uma versão básica, cuja imagem tem qualidade boa, mas não excepcional. Paga-se pelo 4K, e a resolução é de cinema (desde que o televisor também seja bacana, de última geração). No caso da Uber, desde 2014, a criação de distintas categorias foi uma ideia tão boa que se espalhou rapidamente, com a alcunha “black” alçada a sinônimo de coisa especialíssima, que você tem mas seu vizinho ainda não.

SERIADO-SEE
NEM TODOS PODERÃO VER – A série ‘See’, da Apple TV+ Plus, rival da Netflix: só para s (./Divulgação)
Continua após a publicidade

É uma engrenagem que, a rigor, ecoa as classes dos aviões comerciais — capaz de servir aos interesses das companhias de aviação e também aos sonhos de quem, guardando dinheiro e podendo gastá-lo, almeja um lugar melhor. É movimento natural dos anseios do ser humano. E, embora se oponha à gênese imaginada pela turma revolucionária de Berners-­Lee, combina à perfeição com a ideia vitoriosa da força do livre mercado. Segundo um estudo da consultoria americana Gartner, especializada em tecnologia, estima-se que até 2020 mais de 80% dos fabricantes de softwares criarão serviços pagos, mediante s, em acréscimo às suas versões populares.

arte-serviços-VIP-iPhone
(./.)

Publicado em VEJA de 18 de setembro de 2019, edição nº 2652

Publicidade

Matéria exclusiva para s. Faça seu

Este usuário não possui direito de o neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu

ABRIL DAY

Digital Completo 334n2c

o ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 1,99/mês*

Revista em Casa + Digital Completo 115i1p

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada edição sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês

*o ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a R$ 1,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.